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O aborto dos outros

Bom, em primeiro lugar quero agradecer ao convite do Evandro para participar desse blog tão bacana. Meu nome é Andrea DiP, sou jornalista e amo a Deus. Dito isto, gostaria de pedir licença para enfiar o pé na porta. Como jornalista aprendi algo que já deveria ter aprendido como cristã. A não julgar o que não conheço, não entendo e não tem cara. Descobri que por trás desses assuntos há gente, assim como toda e qualquer exclusão imediata que fazemos, contrariando o único e simples mandamento do amor... Sei que aqui escrevo para pessoas que já sabem que tatuagem não muda caráter, mas gostaria de aprofundar, chamar à reflexão sobre alguns temas proibidos e tentar sempre pensar O que Jesus faria... com essas pessoas. Não com os pré-pré-pré conceitos.
Abaixo, um pequeno texto que escrevi para a Gloss, que fala sobre aborto. Por que faço isso? Porque para além das nossas crenças é um assunto extremamente político e que precisa da participação pública, da sua, da minha. A quem quiser, posso passar uma matéria que fiz sobre o mesmo tema que foi REJEITADA, não passou na censura do único órgão que se diz de direitos do mundo, por mostrar a realidade nua e crua.

"No sábado passado eu fui assistir ao filme da Carla Gallo, O Aborto dos Outros por conta de uma matéria que estou fazendo sobre o tema. Sentei na poltrona vermelha armada de um saco de pipocas que não consegui comer, uma Coca-Cola que tomei em segundos de aflição e todo meu pré-conceito. Sempre fui acusadora feroz da prática do aborto. Quando engravidei ainda estagiária ganhando 150 reais por mês e meu editor perguntou se iria levar adiante, fiquei indignada. Óbvio que levaria adiante! E meu filho é minha melhor porção de vida, meu melhor pedaço de mundo, sem pensar meia vez.

E de repente O Aborto dos Outros. Uma menina linda, linda, de 13 anos que sofre dias internada em um hospital para um aborto concedido por lei, porque foi estuprada virgem. E a aflição da mãe. Uma mulher que é presa porque interrompeu a gravidez para seu filho não passar fome.

Outra grávida de seis meses chora porque apesar de querer muito a criança, é um feto anencéfalo que iria durar apenas algumas horas depois do parto. E de repente a questão não é o aborto. São 68 mil mulheres que morrem todos os anos fazendo abortos clandestinos, criminosos.

São meninas estupradas nas comunidades, longe das câmeras da televisão que engravidam. É a falta de informação, o desespero, a falta de estrutura do SUS em fornecer métodos anticoncepcionais eficientes. E o governo que acusa e prende mulheres desesperadas, é o mesmo que não fornece informação, anticoncepcionais ou uma oportunidade.

De repente, o aborto continua sendo, na minha opinião, uma prática não comum e atroz mas que na clandestinidade mata mãe e filho. Uma prática que quando cometida da classe média pra cima, por pequenas fortunas em clinicas clandestinas luxuosas é silenciosa e maldosa, cometida por quem tem informação e escolha.

Mas que quando feita por meninas estupradas de 13 anos, ou mães de fetos anencéfalos, ou sem chances de sobreviver é quase sempre fatal, ou dolorida e sempre, sempre, em todos os casos, deixa seqüelas. Pergunte a uma mulher se gostaria ou gostou de abortar. Faça esse teste.

Sugiro aos leitores desse blog que assistam o filme de Carla, se informem sobre o assunto e principalmente sobre a discussão atual sobre anencéfalos, para opinar e participar.São 68 mil mulheres.